domingo, 8 de agosto de 2010

O Escorpião - História Natural, Aspectos Anatômicos e Comportamentais.Lugar na Natureza


Apesar da existência de poucos exemplares, evidências fósseis indicam que os primeiros escorpiões ( aproximadamente 400 milhões de anos atrás) eram de vida aquática possuindo guelras e patas, e se pareciam em muito com os escorpiões atuais.
Alguns dos primeiros escorpiões a viverem a maior parte do tempo em terra firme eram muito pequenos, mas pelo menos uma espécie - Praearcturus Gigas - assumia maiores proporções chegando a medir 1 metro de comprimento sendo pois um notório predador.
Os escorpiões modernos se adaptaram aos mais variados tipos de habitat -
Dos desertos às florestas tropicais e do nível do mar a grandes altitudes em montanhas. Uma espécie foi encontrada vivendo a 4.200 metros de altitude nos Andes.
Apesar de pequenos em tamanho, escorpiões exercem papel fundamental na cadeia alimentar.
Não é incomum encontrarmos três ou quatro espécies diferentes convivendo no mesmo habitat, ou em grupos númerosos. Eles são animais carnívoros, predando grande quantidade de invertebrados e ocasionalmente pequenos vertebrados contribuindo sobre maneira para o equilíbrio ecológico.
Habitats
Como dissemos os escorpiões são encontrados nos mais variados habitats tais como florestas tropicais, cerrados, campos, e em áreas intermediarias às descritas.
A grande maioria destes aracnídeos tem preferência por climas tropicais e subtropicais. Todavia algumas espécies de adaptaram a regiões pouco comuns, algumas surpreendentes.
Em várias regiões do planeta algumas espécies de pequenos escorpiões ( menos de 1 mm ), vivem em zonas intermediárias. Conhecidos como escorpiões do litoral, se alimentam de minúsculos invertebrados marinhos trazidos pelas marés.
Algumas espécies vivem como já nos referimos em altitudes acima de 4.200 metros no Himalaia asiático, uma em particular - Orobothriurus altola - vive a 4.400 metros de altitude na cordilheira dos Andes aqui na América do sul.
Estes são muito pequenos e passam meses sob pedras e em abrigos cobertos por neve e gelo.
Experimentos já demonstraram que muitos escorpiões podem resistir a temperaturas abaixo do ponto de congelamento.
A influencia de microclimas específicos, assim como composição de solo, tipos de rochas, sazonalidade de temperaturas extremas e disponibilidade alimento são fatores limitantes na distribuição destes animais.
Para sobreviver através dos milênios os escorpiões tiveram que se adaptar.
Os escorpiões das areias (psammophiles) possuem numerosas cerdas, que aumentam a área de superfície de contato com o solo, as patas são adaptadas para melhor locomoção na areia fofa. Os escorpiões de regiões rochosas (lithophiles) são mais achatados e alongados com cerdas mais espessas e pontudas mas patas o que facilita se mover livremente sobre o terreno e em seus abrigos. Seus metasomas são longos e finos e mais elevados em relação a maioria das espécies.
Um corpo desenvolvido, robusto com patas curtas e pedipalpos grandes e , poderosos caracterizam os escorpiões que constróem abrigos (fossorial). Alguns escorpiões (troglobites) vivem em cavernas profundas. Como não há nenhuma necessidade enxergar na escuridão, a maioria deles são cegos e em alguns a ausência total de olhos é observada. Geralmente seus corpos, patas, e pedipalpos são extremamente delgados, incolores - todas estas adaptações foram desenvolvidas para viver em fendas, sob a rocha, e nas profundezas das cavernas. Escorpiões adaptados às proximidades das entradas das caverna são conhecidos como troglophiles, não perderam os olhos e não adquiriram outras características dos troglobites.
Os escorpiões arbóreos são pequenos, leves, ágeis em escaladas. Alguns sobem em árvores, vivendo dentro dos buracos e das rachaduras dos troncos, outros preferem as parte basal de bromélias.
Uma vez que as pesquisas para explorar as copas das árvores das florestas tropicais estão em estágio inicial, acredita-se que muitas espécies novas de escorpiões ainda serão descobertas e descritas.
Cada uma destas variações físicas são acompanhadas de inconvenientes, algumas espécies são tão especificas de certo ecossistema que encontram sérias dificultadas em se adaptar a outros com características diferentes, mesmo que estas variações sejam mínimas.
Esta é uma consideração importante quando avaliamos a necessidade de se manter estes animais em cativeiro, seja para fins médicos-sanitários seja para estudo de comportamento. Algumas espécies simplesmente não são passíveis de se manter em laboratório, pelo menos com a técnica e equipamento que dispomos.

  • Adaptar para sobreviver:
    Além da sustentação, o exosesqueleto rígido do escorpião age como um revestimento rígido, protetor cuja coloração geralmente condiz com o seu habitat. Isto fornece ao escorpião a capacidade de se camuflar.
    A forma achatada dos escorpiões os permitem esgueirar por entre locais muito pequenos e apertados.
    Sua capacidade de inocular veneno e seus fortes pedipalpos combinados com sua velocidade de reação a estímulos fazem do escorpião um predador formidável e perigoso.
    Os escorpiões possuem uma das taxas metabólicas mais baixas do reino animal. Podem permanecer longos períodos sem se alimentar pois ao final de uma única refeição ( na qual ingeriu grande quantidade de alimento), conservam ao máximo energia evitando ao extremo se locomoverem, poupando assim energia para sua manutenção.
    Os escorpiões do deserto são os artrópodes mais especializados em conservação de água.
    O revestimento de seu exoesqueleto os torna impermeáveis evitando perda de líquido corpóreo.
    A necessidade de água da maioria dos escorpiões do deserto é adquirida através de suas presas ou seja através de seu alimento.
    Seus dejetos são extremamente secos devido ao elevado teor de nitrogênio e uma porção mínima de água.
    Respirar através de espiráculos minimiza substancialmente a perda de água através da respiração. Algumas espécies possuem membranas que cobrem as entradas dos espiráculos podendo fecha-las voluntariamente diminuindo ainda mais quaisquer perda de líquido.
    Ao se refugiarem dentro de tocas, sob as pedras ou se enterrando no solo os escorpiões do deserto evitam os períodos mais quentes do dia este procedimento também minimiza a perda de umidade.

    Os escorpiões fazem parte de uma parte significativa da cadeia alimentar.
    Além do canibalismo interespecies, seus predadores incluem centipedes, aranhas, formigas, lagartos, serpentes, rãs e sapos, pássaros e alguns mamíferos de grande porte. Em alguns locais do planeta os escorpiões fazem assumem grande importância na dieta de ratos, gafanhotos e de corujas. A serpente da areia, Chionactis spp. , não somente é imune ao veneno do escorpião, como parece alimentar-se quase exclusivamente deles. Alguns outros predadores são resistentes ao veneno do escorpião. Na África e na Ásia os babuínos escavam sistematicamente a superfície da terra para encontrar escorpiões, removem o telson ou o metasoma inteiro para evitar de ferroadas antes de comê-los.
    Aparentemente as espécies menores têm um período de vida mais curto, entre 3 ou 4 anos.
    Existem relatos de grandes escorpiões cujo período de vida poderia ser de 20 anos ou mais.

    A medida que pesquisadores aprofundam seus estudos sobre os escorpiões torna-se mais freqüente a necessidade de reavaliação e mudanças na sua classificação.
    Infelizmente são pouquíssimos os pesquisadores trabalhando com escorpiões no mundo, no Brasil não seria possível enumerar uma dezena mesmo sabendo que no passado contávamos com os maiores expoentes da arcnologia mundial tais como Lutz, Wolfgang Burchel, Campos Mello, além do "pai" da terapia anti-escorpiônica Vital Brasil. O resultado deste desinteresse é a lentidão do processo evolutivo da sistemática atual.
    Utilizando-se das características físicas e moleculares, pesquisadores já determinaram a classificação de 1500 espécies e sub espécies aproximadamente, dividas em 16 famílias:
    1- Bothriuridae
    2 - Buthidae
    3 - Chactidae
    4 - Chaerilidae
    5 - Diplocentridae
    6 - Euscorpiidae
    7 - Heteroscorpionidae
    8 - Ischnuridae
    9 - Iuridae
    10- Microcharmidae
    11 - Pseudochactidae
    12 - Scorpionidae
    13 - Scorpiopidae
    14 - Superstitionidae
    15 - Troglotayosicidae
    16 - Vaejovidae
    Muitas delas são divididas em sub-famílias, que por sua vez se dividem em gênero, espécies, e em alguns casos subespécies.
    Existe muita discordância entre os pesquisadores sobre a validade ou não das subespécies; alguns afirmam que a classificação atual de muitas subespécies esta pouco definida e muito subjetiva. Uma vez que as características físicas utilizadas para tal definição são muito pequenas e só podem ser observadas através de dissecação microscópica.
    A separação de gênero em espécie deve ser motivo de investigações cuidadosas que requerem muita paciência e determinação. É sabido que a coloração e o tamanho de indivíduos de uma mesma espécie podem variar de acordo com os seus respectivos micro habitats e estas peculiaridades deve ser cuidadosamente avaliadas quando da classificação das espécies.
    Uma diferença única e isolada não é suficiente para elevar um certo tipo de escorpião à condição de espécie.
    Se houver aumento de interesse por parte de pesquisadores e principalmente fontes de financiamento para pesquisa, seguramente novas espécies de escorpiões serão descritas. A biologia molecular através do uso de PCR, ou análise de DNA tornou-se uma ferramenta de suma importância nesta tarefa.

    A maioria das pessoas esta familiarizada com o formato de um escorpião, todas as espécies existentes se parecem.
    Os escorpiões são considerados muito primitivos se comparados a outros animais terrestres
    Além do mais os escorpiões são considerados os aracnídeos mais antigos encontrados até o momento.
    Sua notória capacidade de evolutiva e de adaptação permitiu que sobrevivessem na superfície da terra por aproximadamente 300 a 350 milhões de anos após saíram do ambiente aquático.
    Todos os escorpiões captam calor de fontes externas e são incapazes de gerar seu próprio calor. Em ambientes muito quentes eles possuem hábitos noturnos.
    Algumas espécies de regiões temperadas e de florestas tropicais tem atividade durante parte do dia, uma vez que a vegetação densa impede que o calor excessivo do sol atinja o solo.

    Apesar de se buscar fazer uma abordagem detalhada da anatomia dos escorpiões, torna-se importante uma revisão de todas as partes do corpo e suas características de forma identificar algumas partes externas do animal.
    Os escorpiões, internamente possuem sistemas nervoso, circulatório, respiratório, reprodutivo e digestivo. Como todos os artrópodes os escorpiões tem o corpo revestido por fino e resistente exoesqueleto de quintina que carrega e protege as estruturas internas.
    É a base de sustentação também de vários receptores sensitivos, espiráculos
    ( ou opérculos respiratórios) e outras estruturas de comunicação com o meio exterior de grande importância biológica.
    O Prosoma
    O corpo é dividido em duas partes principais o prosoma (cefalotórax) e o opistosoma ( abdome) . Dorsalmente, o prosoma é coberto por uma carapaça. As quelíceras são parcialmente cobertas pela carapaça e projetadas para a frente.
    As quelíceras são órgãos pré-bucais e são usadas para rasgar e triturar alimento; todos os aracnídeos as possuem.
    Um par de olhos medianos e outros laterais, menores ( ao todo cinco pares ) estão localizados na carapaça. Os olhos medianos são órgãos muito primitivos, com capacidade de percepção de profundidade e espacial produzindo assim imagens visuais distorcidas. São muito sensíveis a luz. Seu propósito parece ser permitir orientação e para diferenciar luz e escuridão.
    Os olhos laterais são até três vezes menores do que os olhos medianos e parecem reagir a estímulos mais rapidamente no escuro.
    Aparentemente são os responsáveis pelo ciclo luz-escuridão e parecem serem reguladores do relógio biológico dos escorpiões.
    Uma área foto sensível no metasoma foi descoberta recentemente em diferentes escorpiões . Sua função não foi ainda esclarecida.
    Opistosoma
    O opistosoma é composto pelo mesosoma ( pré abdome ) e metasoma, erroneamente chamado de cauda , ( pós abdome ). Sete tergítos se combinam para formar a parte dorsal do mesosoma. O tecido flexível que une as partes rígidas do exoesqueleto são denominadas membranas (pleura) intersegmental. O
    Metasoma é formado por cinco segmentos arredondados que terminam com um bulbo chamado telson.
    O telson não é considerado parte do metasoma. O aguilhão ou a parte inoculadora de veneno é chamada de acúleo ( ferrão ) e em sua porção arrendada estão as glândulas produtoras de veneno.
    Uma pequena protuberância esta presente em algumas espécies e são usadas por taxonomistas como uma característica quando da classificação de espécies.
    O metasoma não é uma cauda no sentido da palavra, mas uma continuação do abdome. Contém partes do intestino, nervos, artérias, veias e músculos além de sustentar o telson.
    O metasoma é um órgão musculoso e além de ser usado para ferroar também é usado para cavar, higienização, equilíbrio e sustentação do animal.
    A abertura anal esta localizada no tecido mole do quinto segmento, onde este se conecta com o telson.

    Quadro pares de patas articuladas ( todas inseridas no cefalotórax ) permitem locomoção e também são usadas para escavar o solo. A porção que de cada pata que se conecta com o corpo é denominada coxa, e segue nesta ordem o trocanter, fêmur, patela, tíbia, basitarso, tarso e apotele.
    Garras laterais e medianas estão ligadas à apotele.
    Os pedipalpos são análogos ao braçõ e mãos humanas. Cada pedipalpo possui seis segmentos. Começando a partir do corpo temos: O trocanter, o fêmur, a patela, a tíbia, e o tarso. Os dois últimos segmentos apresentam o formato de pinças ( mãos ) a tíbia modificada representam a palma e um dedo fixo, e o tarso é o dedo móvel da pinça.
    Apesar das estruturas anatômicas dos pedipalpos possuírem a mesma nomenclatura daquelas das pernas, os pedipalpos não são pernas. Estes são usados para capturar, conter e esmagar presas; para proteção como uma poderosa arma e escudo; e para escavar.
    Também possuem órgãos sensitivos excepcionais. A superfície interna das pinças possui uma série de granulações dentadas e pontiagudas, que possibilita segurar firmemente e esmagar suas presas.
    Algumas estruturas dos pedipalpos são presentes apenas nos machos, fornecendo base segura quanto ao dimorfismo sexual ( a abertura ou vão encontrado no Tityus bahiensis utilizado para segurar a fêmea quando acasalamento é um bom exemplo ).
    Escorpiões com pinças maiores e robustas são capazes de esmagar o exoesqueleto de qualquer invertebrado por mais rígido que este seja.
    A porção ventral
    As formas das estruturas da porção ventral entre as pernas ( coxoesterno )dos
    escorpiões são as mais utilizadas pelos para diferenciar famílias.
    Os dois opéculos genitais ( fundidos cobrindo a abertura genital ) podem ser observados no centro do dorso imediatamente atrás e posteriormente ao externo.
    Oito pequenas aberturas ( espiráculos ) localizados na parte ventral do mesosoma, transportam ar para os pulmões ( organelos respiratórios )
    Uma vez que podem ser "fechados" em momentos de stress, estes espiráculos são extremamente eficientes e minimizam a entrada de partículas de pó no organismo.

    Apesar dos escorpiões possuírem pouca visão eles são dotados de um arsenal de potentes receptores sensitivos. Captando movimentos de ar, vibrações, e tato são capazes de perceber a presença de predadores, presas, água, temperatura e luz, assim como uma gama de outros estímulos.
    Pectíneas
    As pectíneas são um par de apêndices com aparência de pentes localizados na porção ventral imediatamente após o último par de patas. Apenas os escorpiões as possuem. Estes órgãos sensitivos estão permanentemente em contato com o solo e são capazes de captar vibrações mínimas no mesmo e são ainda utilizados pelos machos para perceber a presença de ferormônios durante o período reprodutivo.
    Cerdas
    As cerdas são estruturas com aparência de pelos distribuídas por quase todo o corpo dos escorpiões, nas pata, e nos pedipalpos, dando a algumas espécies a aparência "peluda". Algumas destas cerdas não são visíveis a olho nu.
    Pelo menos três tipos diferentes de cerdas já forma descritas, As Cerdas captam sensações radiculares, térmicas, químicas e variações de umidade.
    As mais importantes são as longas e finas tricobótrias encontradas apenas nos pedipalpos. Estas são incrivelmente sensíveis e a movimentos de ar e a vibrações e podem perceber o menor movimento de suas presas, de outros escorpiões e situações de perigo.
    A quantidade, localização e disposição das tricobótrias são importantes na identificação de espécies.
    As cerdas do tarso captam vibrações do substrato e muitas ainda percebem variações e presença de água e umidade além de mudanças químicas no ambiemte.
    Tufos de cerdas localizados no tarso e basitarso aumentam a área de contato com o solo facilitando a locomoção me terrenos arenosos e macios.
    Apesar de muito importantes para se determinar o habitat de espe´cies de escorpiões estes tufos de cerdas não são facilmente observados sem a utilização de intrumentos ópticos ( lupa entomologica )

    Outros sensores microscópios chamadas de "réguas" sensitivas são encontrados nos pés e no metasoma. Quando algum tipo de pressão é feita sobre o exoesqueleto estss "réguas" se abrem rapidamente. Dependendo da duração e da intensidade desta pressão os escorpião faz ajustes em nos movimentos e postura do corpo.
    Outras "réguas" sensitivas localizados no basitarso em todas as oito patas parecem perceber vibrações no terreno, como aqueles produzidos por movimentos de insetos.
    Os escorpiões se utilizam das sensações recebidas por patas opostas para se aproximar de suas presas e determinar a localização e distância da mesma.

    Aproximadamente 150 espécies de escorpiões são capazes de produzir sons ou esfregando partes do corpo uma contra a outra ou vibrando estruturas anatômicas.
    Alguns Opistotamus esfregam suas quelíceras e o cefalotorax e produzem um som sibilante. Algumas espécies friccionam o telson no metasoma, pectíneas ao externo, e os pedipalpos ao primeiro par de patas.
    Em nosso laboratório tivemos a rara oportunidade de manter um Tityus brazilae por mais de 3 anos e a qualquer toque em seu terráreo o mesmo vibrava suas pectíneas produzindo um som que em muito lembrava o de uma cascavel. Outros escorpiões literalmente batem o telson no solo. Estes sons produzidos parecem ter a função de intimidar agressores.

    O veneno é uma mistura química complexa ( peptídeos de baixo peso molecular ) que destroem as células quando as penetram.
    Mais 100 destes peptídeos ja foram isolados em veneno de escorpiões. A função básica do veneno é de capturar e imobilizar presas: sua função defensiva é secundária.
    Mas apenas uma minoria dos escorpiões produz veneno. E felizmente apenas 24 espécies são potencialmente perigosas para o ser humano.
    O veneno dos escorpiões tem sido largamente estudado, particularmente em como é sua ação no corpo humano. A toxicidade dos venenos varia de gênero para gênero e de espécie para espécie, e muitas vezes dentro de uma mesma espécie a ação do veneno pode variar.
    Também, por razões ainda desconhecidas, parece ter variações de acordo com regiões. Talvez em função da variação dos componentes químicos de cada tipo de veneno, aliados a variações genéticas, condições ambientais, tipo de alimentação disponível, ou simplesmente variações fisiológicas entre espécies podem ser a causa destas diferenças.

    O processo utilizado pelo escorpião para provocar envenenamento é rápido e eficiente. Os musculoso metasoma é suspenso e o telson posicionado, para a introdução rápida e certeira do aguilhão no exoesqueleto ou pele do seu alvo. O escorpião deve perceber que foi certeiro, pois se o aguilhão não penetrar adequadamente o animal fará novas tentativas repetidamente até obter sucesso na inoculação do veneno.
    As cerdas próximas ao ferrão são importantes sensores durante o ataque. Presas relutantes, que se debatem, serão ferroadas seguidamente enquanto estiverem seguras pelas pinças.
    A quantidade de veneno injetada é controlada pelo escorpião; doses maiores para grandes animais e menos para as presas menores.
    Algumas vezes o veneno não é injetado apesar da ferroada, este fenômeno é conhecido como "ferroada seca".
    O ferrão pode se manter introduzido na presa por alguns segundos ou simplesmente ser espetado e retirado imediatamente, retornado a sua posição de ataque. Independentemente da forma como é utilizado o veneno faz do escorpião um predador extraordinário e eficiente, capaz de capturar presas maiores e mais perigosas do que o próprio.

    Os Escorpiões que mais riscos trazem para seres humanos são originários do norte da África e do Oriente Médio (Androctonus, Buthus, Hottentotta, Leiurus), America do Sul (Tityus), Índia (Mesobuthus), e México (Centruroides).
    Em algumas destas regiões ( como no Brasil por exemplo ) acidentes escorpiónicos são importante causa de mortes humanas. Infelizmente estatísticas confiáveis não estão disponíveis.
    As raras estatísticas sugerem que o percentual de mortalidade em ambiente hospitalar por escorpiões seria da ordem de 4% dos agredidos, sendo crianças e idosos os mais susceptíveis a este tipo de envenenamento.
    A morte por envenenamento escorpiónico ocorre como resultante de falência cardio-respiratória algumas horas após o acidentes ( este período é variável podendo ocorrer entre 1 a 6 horas em média - mortes tardias também podem ocorrer )

    Os escorpiões tem um ritual complexo de acasalamento no qual o macho se utiliza dos pepipalpos para conter a fêmea e conduzi-la em uma "dança nupcial". Os formas e detalhes desta "dança" variam de espécie para espécie, e algumas ocorre até chamada " ferroada sexual" provocada pelo macho.
    Uma das funções desta dança nupcial é a limpeza do solo para fixação do espermatófaro ( um estojo de quintina que contém os espematozóides - espermateca ) pelo macho.
    Após algum tempo ( que pode durar horas ) o macho deposita o seu espermatófaro no solo, a fêmea é então conduzida até esta estrutura de forma que o mesmo penetra no seu opérculo genital localizado em seu abdome.

    -Kjellesvig-Waering, E.N. 1986. A restudy of the fossil Scorpionida
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    K. E. Caster. Palaeontographica Americana, No. 55,
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    - Polis A.G - Biology of Scorpions - Stanford University Press - 1990
    -Schulz, J.W. 1990. Evolutionary morphology and phylogeny of
    Arachnida. Cladistics, 6:1-38.
    - Stutz, W. H. 1990, Ocorrência de Escorpiões em Uberlândia Minas Gerais
    Brasil - Monografia para obtenção de título de Especialista em Saúde
    Coletiva - universidade Federal de Uberlândia.
    Selden, P.A. 1993. Arthropoda (Aglaspidida, Pycnogonida, and
    Chelicerata), pp. 297-320. In: The Fossil Record
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    - Stockwell, S.A. 1989. Revision of the Phylogeny and Higher
    Classification of Scorpions (Chelicerata). Ph.D. Dissertation,
    University of California, Berkeley. 413 pp.
  • Escorpião De Pinças Vermelha


    Escorpião De Pinças Vermelhas

    História 

    O Escorpião de Pinças Vermelhas habita as florestas tropicais de África. Hoje em dia, está entre os escorpiões mais populares como animais de estimação.

    Descrição 

    O Escorpião de Pinças Vermelhas é identificado sobretudo pela característica que lhe dá nome: pinças com uma coloração avermelhada. Este escorpião é ligeiramente mais pequeno que o Escorpião Imperador. 

    Temperamento 

    O Escorpião de Pinças Vermelhas é mais agressivo do que o Escorpião Imperador. Apesar de ser dócil e fácil de manter, esta característica faz com que não seja tão recomendável a iniciantes. De resto, têm um comportamento semelhante. De hábitos terrestres, é escavador e tímido.

    Picada 

    Ao contrário da crença popular, o Escorpião de Pinças Vermelhas não utiliza o seu ferrão para caçar as presas, mas sim as suas poderosas pinças que lhe permite esmagar os insectos, lagartos ou roedores. O ferrão só é usado nos casos em que o escorpião se sente ameaçado. Por este motivo, o Escorpião Pinças Vermelhas tem umas pinças bastante desenvolvidas e uma picada de intensidade média, geralmente comparada à picada de uma abelha. Para um dono sem problemas alérgicos, o veneno deste escorpião não traz graves consequências para além da dor. Contudo, em crianças com alergia ao veneno, uma picada pode mesmo ser fatal. Os adultos podem também desenvolver uma hiperssensibilidade ao veneno, se forem picados frequentemente. Por estas razões, o Escorpião de Pinças Vermelhas deve ser manuseado com cuidado.

    Alojamento 

    A manutenção do Escorpião de Pinças Vermelhas é em tudo semelhante aos cuidados necessários com o Escorpião Imperador.

    O Escorpião de Pinças Vermelhas vive no solo húmido das florestas tropicais, pois isso é aconselhável um substrato que mantenha essas características.

    Pedras são óptimas formas de fornecer esconderijos ao escorpião.

    A humidade deve estar entre 75 e 90 %. A temperatura confortável para este escorpião é entre 23 e 30ºC. É aconselhável que a fonte de calor não seja colocada no solo do terrário, mas sim nas paredes ou tecto. Isto porque os escorpiões são escavadores e enterram-se na terra para arrefecerem o corpo.

    O Escorpião balança a cauda sob o coração da Galáxia



    Como encontrar a constelação de Escorpião e achar o centro da Via Láctea.



    Facilmente reconhecível, a imensa constelação do Escorpião serve de guia para se achar um ponto muito especial: o centro da Via Láctea, galáxia em que fica o Sol. O corpo do Escorpião se delineia a partir da estrela Antares, cujo brilho elevado, medido pela magnitude 1, rivaliza com o do planeta Marte (veja no mapa ao lado). Note que, a partir daí, quase numa reta rumo ao sul, alinham-se mais duas estrelas isoladas, e em seguida vem um par de astros bem próximos, designados µl e µ2 Sco. O próximo membro da constelação é também uma dupla, ? 1 e ? 2 Sco (veja perto um belo agrupamento estelar, o aglomerado aberto I Sco, composto de 70 astros jovens, azuis, visíveis com pequena luneta ou binóculo). 

    Começa aí a curva da cauda do Escorpião, no sentido do ponteiro do relógio, em cuja ponta está a estrela Shaula (e, não muito longe, o aglomerado aberto M7, visível a olho nu). Imagine agora um triângulo equilátero, isto é, de lados iguais, cuja base é uma linha traçada entre Antares e as ? l e ? 2: seu vértice superior dá a direção do centro galáctico, distante 27 700 anos-luz (um ano-luz vale 9,5 trilhões de quilômetros). Sede de um zoológico que inclui pulsares, nebulosas, fontes de raios X e outros bichos, a posição desse ponto (desenho abaixo) faz com que ele passe bem acima de Porto Alegre.

    Por isso, um grupo de pesquisadores, liderados por brasileiros, planeja construir aí a maior antena de rádio do planeta. Um detalhe final: seguindo além da cauda do Escorpião, à esquerda, se vê a singela Coroa Austral, constelação que os pescadores da Ilha do Cardoso, no litoral paulista, chamam O Lanço. É que ela é uma imagem perfeita do brilho produzido pelo chumbo da tarrafa que, ao cair na água, induz fluorescência no plâncton marinho, notável nas noites sem luar. Os pescadores querem com isso homenagear a rede que São Pedro teria lançado (o lanço, no relato bíblico) por indicação de Cristo. Que suas redes venham sempre cheias como a de Pedro.

    Escorpião


    A Reprodução dos Escorpiões
    Os escorpiões são animais extremamente antigos, com origem estimada há cerca de 400 milhões de anos atrás. Uma das características que possibilitou esse sucesso é a reprodução eficiente que pode envolver desde cuidado parental até partenogênese.
     Reprodução:
    A maioria dos escorpiões se reproduz sexuadamente, ou seja, machos e fêmeas acasalam para gerar descendentes. É possível distinguir os sexos porque ocorre dimorfismo sexual nesses animais: machos e fêmeas possuem diferentes tamanhos, diferentes formas de palpos ou outros órgãos, apresentam determinadas estruturas com exclusividade ou apresentam outras características diferenciais. Machos de escorpião-marrom (Tityus bahienses), por exemplo, possuem palpos mais volumosos que os das fêmeas.
    O acasalamento é intrigante, envolvendo uma dança nupcial, e só foi descrito recentemente na década de 1950 a partir de observações curiosas de pesquisadores. Tudo começa na busca do macho por uma fêmea receptiva. Ao encontrá-la, iniciam-se os primeiros contatos. Se a fêmea resistir, o macho pode até insistir, mas normalmente acaba por desistir e buscar outra parceira. Quando há sucesso, o macho segura a fêmea pelas pernas, pelo pós-abdome, até encontrar os palpos. Inicia-se, então, uma dança nupcial, também chamada de “promenade a deux” (passeio a dois) pelo naturalista Fabre: com os pedipalpos unidos, o casal se desloca para frente e para trás, de um lado para o outro, sob a liderança do macho, que periodicamente pode sofrer fortes tremores. Nessa dança, o macho busca um local adequado para a deposição do espermatóforo, estrutura que contém os espermatozóides e os transfere para a fêmea, já que escorpiões não possuem um órgão transmissor de esperma. Esse substrato varia com as espécies e pode ser limpo com os pentes do macho. Toda essa dança possui duração variável, de acordo com a dificuldade de encontrar o local adequado. No escorpião-marrom, Tityus bahienses, ela dura de 15 a 20 minutos, mas pode chegar a mais de 10h em outras espécies.
    A etapa seguinte é a inseminação da fêmea. O macho eleva seu pós-abdome e libera simultaneamente um par de hemiespermatóforos, pequenas estruturas rijas, alongadas, alojadas dentro de bainhas e localizadas internamente, uma de cada lado do corpo, em posição posterior ao opérculo genital. Esses se fundem, formando uma peça única com esperma em seu interior, o espermatóforo. A fêmea é, então, puxada em direção ao espermatóforo fixado de forma inclinada no chão, até que seu opérculo genital o toca. Após isso, ela se liberta, podendo aceitar outros machos para acasalamento.
    O período de acasalamento do escorpião-marrom (Tityus bahienses) é de outubro a dezembro, com intensa atividade sexual.
    Todo esse processo descrito acima não ocorre no escorpião-amarelo (Tityus serrulatus). Nessa espécie não existem machos e a reprodução ocorre assexuadamente, por partenogênese, onde óvulos não fecundados dão origem a novas fêmeas. Esse fato pode ser uma justificativa para a abundância desses animais em certas regiões do Brasil.
     Nascimento, crescimento e desenvolvimento:
    Escorpiões são animais vivíparos, ou seja, eles não botam ovos, diferente dos outros aracnídeos. Uma fêmea prestes a dar à luz posiciona-se com sua parte anterior, do cefalotórax e pré abdome, levantada, formando o cesto natal para amparar os recém nascidos, que são levados pelo primeiro ou segundo par de pernas ao dorso da mãe. Os filhotinhos, brancos e moles, aderem ao corpo da parturiente por ventosas temporárias nas extremidades das pernas e permanecem aí até a realização da primeira muda, se alimentando de reservas.
    Comumente ocorre mais de um parto por cópula e o tempo de gestação varia com a espécie. Há registros desde 42 dias a até 18 meses! O número de filhotes depende da espécie e das fêmeas, podendo ser gerados desde um a até mais de cem.
    Nos escorpiões-marrons (Tityus bahienses), a gestação é de cerca de 130 dias e nasce uma média de 36 filhotes, que permanecem no dorso da fêmea por até 7 dias. Nos escorpiões-amarelos (Tityus serrulatus) o período de gestação é menos (90 dias) sendo que, em média, nascem até 9 filhotes, os quais permenecem em contato direto com a mãe por 7 dias.
    Os escorpiões são artrópodos, grupo que abrange animais de exoesqueleto, ou seja, que possuem uma casca dura externa ao corpo que não cresce. Por isso, eles precisam realizar mudas para crescer, processo chamado de ecdise e realizado até que se atinja a maturidade sexual. O número de ecdises varia entre as espécies e as diferentes condições, mas está dentro de uma média de 5 a 6.
    Em escorpiões-marrons (Tityus bahienses), foram registradas 4 a 5 mudas e uma vida máxima de 1417 dias. Para escorpiões-amarelos (Tityus serrulatus), ocorrem 5 mudas em 1 ano, quando é atingida a maturidade, e o tempo de vida máximo já registrado foi de 1590 dias. Essa vida é curta se comparada com a do escorpião gigante do Arizona, o Hadrurus arizonensis, que pode viver por até 25 anos!